Estudos recentes apontam para a forte relação entre os transtornos mentais e a economia brasileira.
O estudo realizado pela Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg) revelou que os transtornos mentais afetam uma parcela dos trabalhadores brasileiros e causam uma perda significativa no faturamento das empresas, totalizando R$ 397,2 bilhões por ano. Além disso, a perda é de 4,7% do Produto Interno Bruto (PIB) do país.
A produtividade das companhias é afetada pelos efeitos dos transtornos mentais, resultando em redução de 800,7 mil empregos gerados no país por ano. A perda em massa salarial é de R$ 164,7 bilhões, valor superior ao pagamento do Auxílio Brasil de R$ 600 por mês para 21,6 milhões de famílias.
A perda em impostos líquidos é estimada em R$ 25,7 bilhões. Em Minas Gerais, a perda anual é de R$ 31 bilhões no faturamento das empresas, R$ 16,7 bilhões em massa salarial e R$ 2,4 bilhões em impostos líquidos. A redução no número de empregos chega a 73,8 mil empregos, e o impacto total equivale a 4,2% do PIB do Estado.
O estudo levou em conta dados da Pesquisa Nacional da Saúde do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) que indicam que 10,2% da população acima de 18 anos sofre de depressão e considerou a estimativa da Royal Society for Public Health que 20% da população ocupada no mundo sofre de algum transtorno mental.
Os economistas da Fiemg atribuíram um valor monetário para cada ano de vida perdido, com base na produção média com que cada trabalhador contribui para a economia.
A Organização Mundial de Saúde (OMS) alertou em 2022 para um aumento de 27,6% nos casos de depressão e de 25,6% nos casos de transtorno de ansiedade, devido à pandemia de covid-19.
Além dos efeitos diretos nos indivíduos, como gastos com medicação, consultas e hospitalização, os transtornos mentais também afetam a produtividade dos trabalhadores, resultando em perda de renda e empregos, redução da atividade econômica e aprofundamento da pobreza e desigualdade na sociedade.
No Brasil, do total de pessoas com transtornos mentais, 46,5% sofrem de ansiedade, 24,4% de depressão, 7% possuem transtorno bipolar, e 5,7% têm déficit de atenção e hiperatividade. O restante (16,4%) enfrenta outros transtornos.
O terapeuta Alexandre Coimbra Cabral, psicólogo, consultor de saúde mental em organizações e colunista do Valor, observou que há subnotificação de casos no Brasil, devido ao hábito de automedicação. Desde o início da pandemia, o consumo de remédios para dormir cresceu 45% no país, segundo Coimbra.
As empresas estão adotando medidas para cuidar da saúde mental dos funcionários, desde o chão de fábrica até a alta gestão. É mais comum ver empresas adotarem uma postura mais assistencial, com contratação de academia, psicólogos, cursos de “mindfulness” e treinamento de líderes. No entanto, ainda há muito preconceito em relação aos cuidados com a saúde mental.
A empresa tem que cuidar para não adoecer as pessoas e cuidar do seu modelo de gestão de pessoas junto com a gestão de negócios. Em Minas Gerais, o Sesi oferece para as indústrias serviços de promoção da saúde mental nas empresas, que incluem palestras, oficinas, cursos, atendimento e assessoria psicossocial, avaliação e gestão de riscos psicossociais e programas personalizados para as empresas.
A procura por programas de promoção da saúde mental aumentou mais de 200% desde 2000. Empresas como a Clamper e a Reptec, fabricantes de equipamentos para prevenir danos em sistemas elétricos e de equipamentos de proteção individual (EPI) e uniformes, respectivamente, reforçaram seus programas de saúde mental com o Sesi, que disponibiliza psicólogos para fazer o diagnóstico do trabalhador e encaminhar o tratamento mais adequado.
A mineradora Anglo American desenvolve desde 2018 um programa de promoção da saúde mental, que inclui sete psicólogos que ficam nas unidades para atender os funcionários. A empresa disponibiliza uma plataforma para os empregados fazerem até quatro sessões de terapia por mês custeadas pela empresa. A Samarco, por sua vez, promove ações de promoção de saúde mental desde o rompimento da barragem de Fundão, em Mariana (MG), em 2015, com a morte de 19 pessoas.
A mineradora passou a disponibilizar equipe de psicoterapeutas. Em 2020, com a pandemia, a empresa passou a fazer também ações de promoção da saúde mental. A empresa avalia os fatores organizacionais que podem afetar a saúde mental dos colaboradores, como cultura da empresa, estilo de liderança, sobrecarga de trabalho em alguma área, falta de trabalho em outra.
Ainda há muito preconceito em relação aos cuidados com a saúde mental nas empresas. No entanto, é importante que as empresas cuidem da saúde mental dos funcionários, pois isso pode afetar diretamente o desempenho dos mesmos, além de aumentar o absenteísmo e o presenteísmo.
É preciso que a empresa cuide do seu modelo de gestão de pessoas junto com a gestão de negócios e que promova ações de promoção de saúde mental, como disponibilização de serviços de psicólogos, palestras, oficinas, cursos, entre outros. É importante lembrar que os transtornos mentais não são causados exclusivamente pelo ambiente de trabalho, mas que a empresa pode contribuir para a prevenção e tratamento desses transtornos.
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